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sábado, 24 de abril de 2010

Passeio Socrático – Metáfora da Catedral

No livro Diálogos Criativos, Domenico e Masi e Frei Betto, mediados por José Ernesto Bologna, discutem temas transcendentes, e de acordo com Ricardo Young que faz a apresentação da obra, “ao ler estes diálogos, a alma se revigora, se ilumina de sentido, se projeta assombrosa”.

Então… Segue um fragmento em que Frei Betto fala sobre valores…

Gosto muito da metáfora da catedral.

No período medieval, quando uma cidade queria adquirir status, era edificada uma catedral. Às vezes, à custas de privações do povo da cidade, movido pelo discurso do poder clerical […]. Visitando catedrais, ou quando olho para ponte Rio-Niterói, sempre pergunto quanto sofrimento e sangue existirão por trás dessas obras de arte.

Hoje, quando uma cidade brasileira quer adquirir status, ela constrói uma catedral chamada shopping center. Quase todos têm linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas[…] são templos de consumo.

Você não pode ir ao shopping com qualquer roupa. Tem que ser roupa de missa de domingo.

Entra pelo claustro, escutando aquela musiquinha do gregoriano pós-moderno, musiquinha de consultório de dentista; contempla várias “capelas”, onde veneráveis objetos de consumo encontram-se em nichos acolitados por belíssimas sacerdotizas [ou…deuses gregos].     Quem não pode comprar se sente no inferno…

[…]no Brasil, o shopping é algo mais do que na Europa e no Estados Unidos. é onde os pobres desaparecem da paisagem; não há mendigos, não há crianças de rua, não há pedintes[…].

Costumo dizer que o principal produto que o shopping oferece é gratuito: a ilusão de que vivo em uma sociedade ideal […]. 

Quando vou ao shopping sou, como todo mundo, assediado pelos vendedores: ‘SENHOR QUER ALGUMA COISA , POSSO ATENDÊ-LO?’. Respondo: ‘OBRIGADO, ESTOU APENAS DANDO UM PASSEIO SOCRÁTICO’.

Significa…

Sócrates foi um filósofo grego que andava pelas ruas de Atenas, onde havia lojas de comércio, e também vendedores chegavam à porta e perguntavam se ele desejava alguma coisa. Ele respondia:

‘NÃO, ESTOU APENAS OBSERVANDO QUANTA COISA EXISTE DE QUE EU NÃO PRECISO PARA SER FELIZ’.

ISSO É UM PASSEIO SOCRÁTICO…